Recentemente, pude ser ricamente abençoado por Deus ao ler o texto que está no livro de Gênesis, no capítulo 28. O texto nos traz uma história por demais interessante, cuja origem se encontra ainda no capítulo 27.
Isaque, filho de Abraão, casou-se com Rebeca, sobrinha neta de seu pai, e teve com ela dois filhos, gêmeos, mas de placentas separadas e, por isso, bastante diferentes fisicamente. Eram eles Esaú e Jacó, sendo o primogênito aquele que primeiro foi citado.
Havia naquele tempo o costume de se abençoar o primogênito. Era ele quem recebia do pai, antes de morrer, a grande bênção, bem como a missão de sucedê-lo na linhagem. Desse modo, era esse um direito de Esaú.
Ainda no capítulo 25 de Gênesis, podemos ver que Esaú, ao agir precipitadamente, vende o seu direito de primogenitura a Jacó, seu irmão mais novo. E isto apenas porque Esaú havia voltado exausto e faminto do campo e, ao ver que Jacó havia preparado uma refeição, e não queria compartilhá-la, trocou-a por seu direito de irmão mais velho.
Para nós, este fato pode parecer tolo, uma vez que não é característica de nossa cultura valorizar tanto assim um primogênito, mas para aquele contexto, Esaú havia agido de maneira bastante imprudente e inconsequente, já que o direito de primogenitura lhe garantia não apenas a primazia sobre todos os irmãos que viesse a ter, mas também porção dobrada da herança de seu pai (cf. Gênesis 43:33 e Deuteronômio 21:17). O problema maior, no entanto, ainda estava por vir.
Vê-se em Gênesis 25:28 que Isaque amava a Esaú, mas Rebeca amava a Jacó, o que já nos mostra a provável origem dos problemas que ocorreriam entre os dois irmãos. O fato é que Jacó agia sempre sob a proteção de sua mãe e era conhecido como traiçoeiro, fraudulento, usurpador, adjetivos estes que podem muito bem ser a tradução por equivalência dinâmica do termo hebraico que lhe deu nome.
O estopim dos problemas foi quando Jacó, mais uma vez sob a proteção e orientação de Rebeca, se passou por seu irmão, aproveitando-se da cegueira de seu pai, causada por sua avançada velhice, recebendo dele a bênção que era destinada a Esaú. Vemos neste capítulo, o capítulo 27 de Gênesis, que tamanho foi o ódio de Esaú que desejou matar o seu irmão. Este, mais uma vez orientado pela mãe e autorizado pelo pai, foge à terra de origem de Rebeca, em busca de uma esposa para si, a qual deveria fazer parte de sua família, ao invés de tomar esposa dentre as cananeias, o que entristeceria bastante seus pais. E é durante esta viagem, no capítulo 28, que vemos a revelação de Deus a Jacó.
Ao chegar num determinado lugar, Jacó resolveu passar a noite, uma vez que o sol já se havia posto. E, neste lugar, Jacó sonhou com uma escada posta na terra e cujo topo tocava os céus. Os anjos de Deus subiam e desciam por ela. Em seu topo, estava Deus, o qual falou com Jacó. E, apesar de todos os seus tropeços e de todos os seus erros, Deus se revela a Ele, confirmando a promessa que havia feito a Abraão, seu avô e a Isaque, seu pai. Ele diz a Jacó que irá cumprir tudo o que prometeu e que, por causa disso, Jacó seria grandemente abençoado. Além disso, Deus também lhe promete, no versículo 15, que lhe guardaria por onde quer que ele andasse.
Ao acordar, além de temer muito e reconhecer que Deus estava naquele lugar, Jacó chamou aquele lugar de Betel, que significa, em hebraico, casa de Deus. O problema foi que, neste momento, Jacó fez um voto, tomando uma atitude que em muito se assemelha ao que fazemos diversas vezes.
Jacó disse o seguinte, a partir do versículo 20:
“Se Deus for comigo e me guardar nesta viagem que faço e me der pão para comer e veste para vestir e em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus (...).”
Mesmo tendo visto e ouvido tudo aquilo da parte de Deus, Jacó meio que impunha uma condição para ser fiel ao Senhor. Além de aparentemente duvidar, ele diz que só servirá ao Senhor se isto e aquilo fosse cumprido!
Antes, porém, que nossos julgamentos sejam direcionados a Jacó, é preciso lembrar que nós, muitas vezes, fazemos isto também. Quantos cristãos não têm feito supostos “votos” ao Senhor que em muito se assemelham ao de Jacó? Quantas vezes, mesmo sabendo das garantias do Senhor sobre nós ainda fazemos meio que um “desafio” a Ele?
Duas grandes lições pude aprender com este texto e as compartilho aqui:
1 – DEUS NOS AMA INDEPENDENTE DE NOSSO PASSADO
Mesmo tendo um passado marcado por intrigas, mentiras, traições e diversos tropeços, Jacó contou com a fidelidade de Deus em seu favor. Deus estava dizendo em Betel que o amava e o amava tanto que seria com ele, assim como foi com seus pais, Abraão e Isaque, igualmente pecadores.
2 – DEUS SEMPRE CUMPRE SUAS PROMESSAS
Não importava o que aconteceria ou quem se oporia a Jacó, Deus lhe deixa claro que cumpriria Suas promessas. E, ao vermos a continuidade da história da vida de Jacó, perceberemos o quanto Deus cuidou dele durante toda a sua vida. Jacó, posteriormente, também o percebe e reconhece a providência de Deus em seu favor (cf. Gênesis 31:5; 31:42; 32:10; 33:5; dentre outros).
Logo, precisamos parar de impor condições a Deus, entendendo que Ele é o Senhor. Quem somos nós, para que sequer Ele de nós se lembre? Contudo, ainda assim, Ele tem nos amado tanto ao ponto de sempre cumprir Suas promessas a nós. Isso, porém, não nos dá o direito de reivindicarmos seja lá o que for do Senhor.
Tenho visto, diversas vezes, cristãos fazendo "promessas" do tipo "Se Deus me der isso, farei aquilo." Será que Deus quer nossa fidelidade apenas se Ele nos der o que queremos? Vejo muita gente por aí decretando, reivindicando, mas, na verdade, "ordenando" ao Senhor que faça isto ou aquilo. Não vejo, contudo, bases na Escritura para assim procedermos.
Portanto, não duvidemos mais, como duvidou Jacó, e nem muito menos desafiemos ao Senhor com nossas palavras, impondo-Lhe condições, como se nós fôssemos os senhores e Ele o servo ou como se Ele precisasse de nós e de nossa fidelidade.
Vamos confiar que o Senhor, assim como cumpriu com Jacó, cumpre Suas promessas a nosso favor, nos ama independente do que fizemos no passado e está conosco todos os dias (cf. Números 23:19; 2 Timóteo 2:13; Mt 28:20).
A Ele a glória!
Em Cristo,
M. Vinicius (Montanha)
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